quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Rio de Janeiro continua lindo?

No dia 11 de maio, o produtor Fábio de Souza, que trabalha com importantes grupos e eventos na cidade, escreveu essa nota no seu perfil do Facebook se perguntando qual a lógica de tantos quererem ser VIPs no Rio de Janeiro. Leia abaixo o texto na íntegra

O Rio de Janeiro continua lindo?

por Fabio de Souza, quarta, 11 de maio de 2011 às 15:44

A música feita no Rio anda “mal das pernas”. Inúmeros artistas independentes sofrem pela escassez de casas de shows pra se apresentarem e a desvalorização do que deveria ser considerado um trabalho, só tende a piorar.

Não é novidade a percepção da desunião na classe artística, onde cada um defende seus próprios interesses, nunca se mobilizando por uma cena coletiva. Vê-se a forma como alguns órgãos representativos agem, como a OMB e o ECAD.

No Rio de Janeiro todos se consideram artistas ou VIPs, o que caracteriza um perfil equivocado de que se tem direito a entrar em festas, shows, espetáculos de dança e teatro sem ser questionado, pelo simples fato de ser bem relacionado, ser um “formador de opinião”, ator, cantor bem sucedido (ou não).

Não deveria ser o contrário? Que status é esse que inverte a lógica de que a partir do momento que se está interessado em assistir a um show/apresentação, que se pague para tal? Toda banda, ator ou artista profissional pra se apresentar, por mais que esteja num monólogo ou show solo, depende de técnicos de som e luz, produtores, fora o pagamento de transportes, estúdios para ensaios e músicos contratados.

Quem deve pagar essa conta? O trabalhador que se dedica para apresentar sua arte? Muitos se incomodam com essa situação, mas poucos debatem ou falam sobre o assunto. A omissão e o lobby são os maiores problemas da "côrte".

Artistas bem sucedidos viajam por todo Brasil, mas raramente se apresentam na cidade, pelo simples fato de terem no final que “pagar a conta”. Enquanto em São Paulo é elegante, seja quem for, pagar por ingressos, no Rio o “hype” é ser convidado. Elegância pra quem é bem sucedido seria comprar ingressos e convidar amigos pra conhecer o que é bom ou novo.

Para a “sobrevivência” da arte independente na “província carioca” é imprescindível que os próprios mantenedores desse ofício se respeitem mais, pensando além de suas egotrips e considerando que seu trabalho, assim como o de um pedreiro, médico ou administrador deva naturalmente ser pago. O mesmo vale para quando quiserem assistir espetáculos dos amigos da “classe”.

Acreditar que pagar o valor de R$25 para assistir a um show é alto, nada mais é do que comprovar o quanto a arte está desvalorizada. Há casos de ingressos custarem apenas R$5 e da mesma forma os pedidos acontecerem. Muitos desses consomem R$100 em um bar ou pagam o mesmo valor em festas e acham natural o direito ao tapete vermelho para a entrada em espetáculos.

Não deve ser papel do artista que está se apresentando informar não ser possível colocar nomes em listas vip/convidados e sim, de quem está indo assistir, seja esse um amigo ou “da classe”, sem titubear, pagar pela entrada para assim prestigiar o trabalho.

Sabiamente Cacilda Becker sintetizou em uma frase:
“Não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender.”

Recentemente o músico pernambucano China quase dizia o mesmo no twitter citando um episódio ocorrido:

‎"Pedi para o pedreiro fazer de graça uma obra na minha casa...e sabe o que ele disse? "Ta pensando que eu sou artista, boy?"

Que um assunto como esse deixe de ser velado e que todos nós passemos cada vez mais a respeitar a nobre arte de se “poder tocar um instrumento”.

3 comentários:

  1. Nossa, esse post falou tudo! Quando eu tinha uma banda e fazia shows os meus "amigos" pediam para ser vips.

    JAQUELINELEDERMANN.BLOGSPOT.COM

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  2. A mais pura verdade. Que fique o recado para todos os VIP's, pois a arte é a mais cara manifestação do ser humano e deveria, naturalmente, receber por isso.

    Viva a todos artistas!!!

    www.schenato.blogspot.com

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