terça-feira, 16 de setembro de 2014

Resenha João Donato 80 anos


Que noite, camarada. Que noite! Como disse meu amigo Thomás, que me acompanhou nessa viagem espacial da música brasileira: “essa noite é um lugar inacessível da memória.”
A atmosfera era de celebração. Todos: público e convidados, queriam saudar da forma que podiam a genialidade, a história, a contribuição de João Donato para o nosso cancioneiro e Cultura.



Biritando na porta do Circo já dava pra sentir aquele cheirinho de noite histórica. Meu amigo Thomás, músico na puberdade artística, fã de Donato, Melodia e Caetano, tava amarradão feito coturno de metaleiro. Rindo à toa.
Pra nossa felicidade, o Circo Voador deixa a gente entrar com copos, porque os nossos de 500ml de caipivodka tinham tomado 2 ou 3 beiçadas apenas quando uma voz feminina começou a anunciar que o dono da noite entraria no palco com sua orquestra. Atravessamos rapidamente as catracas, e caminhamos que nem aquela galera da Marcha Atlética para a beirinha do palco. Ficamos com o peito encostados na borda, pertinho dos músicos. O Cenário era massa, aquela gente linda recebendo calorosamente o nosso garoto oitentinha e ele rindo um sorriso que ia da orelha privilegiada da esquerda para a privilegiada da direita. Que beleza.
Mais bonito ainda ficou quando ele começou a tocar, senti a lona decolar. Donato e sua trupe estavam inspirados e nos levaram por um viagem sonora raríssima, deliciosa.
Eu achei que não pudesse ficar melhor, por um momento até me esqueci  que a noite seria de homenagens e participações. Mas Donato, sempre elegante, anunciou Marcos Valle, que o saudou ao teclado e voz, acompanhado por todos aqueles músicos fabulosos. A execução do sucesso da dupla: “Não Tem Nada Não”, deixou todos os quadris presentes extrovertidos demais. Não havia nenhum que se mantivesse acanhado diante de tanto balanço. Garantiu o suingue da noite.
Mas, em se tratando de Donato, suingue nunca é demais. Então, ele convidou Luiz Melodia pra subir ao palco. “Fim de Sonho” e o sucesso mundial “Bananeira” foram executados com a maestria que a noite exigia. Bailaço!
Depois foi a vez de Donatinho, filho do mestre, chegar junto com seus teclados siderais. Voamos ainda mais alto. Esse aí nasceu em berço esplêndido. Um sortudo talentoso.
Depois foi Leny Andrade, que pra mim era um nome distante, mas foi uma surpresa fantástica. Que descoberta, que voz, que talento! “Lugar Comum” deixou o circo boquiaberto, e “Até Quem Sabe” foi o estopim. O Circo helicopterizou embasbacado com o que via. Acha que eu tô exagerando? Olha isso >> https://www.youtube.com/watch?v=U4cTm8pKha0
Eu também queria ter uma voz dessa pra saudar as pessoas que amo, como Leny saudou Donato. Demais!
Aliás, várias apresentações da noite estão no Youtube, quem não foi precisa ouvir uma por uma pra ter dimensão da noite sonora que rolou naquela quarta-feira. Entre as que estão lá, tem a que perdi pra pegar uma cerveja e ir ao banheiro. O índio Shaneihu interpretou “Kanarô” e “A Paz”com o mestre. Quando eu voltei, Donato estava se divertindo com um cocar enorme na cabeça, rindo à toa. Amarradão com as homenagens.



Depois ele chamou uma galera da nova geração, que interpretou outros sucessos de Donato com a maior energia. Mihay, Maíra de Freitas, Tárcio e Luisa Maita nos mics e Kassin no baixo fizeram a maior festa pro mestre.
Wanda Sá e Paula Morelenbaum, antigas parcerias vocais de Donato, também botaram seus gogós afinados a serviço da celebração, ao deleite do público e do mestre.
Pra garantir a diversidade musical da noite, BNegão chegou junto pra somar no groove. “Terremoto’ ganhou uma interpretação energética do rapper, e “Tim Dom Dom” ficou classe A na voz grave dele.
Daí, então, chegou a vez do convidado mais ilustre da festa. Caetano Veloso subiu com um sorriso enorme e um olhar de admiração bonito à beça que atravessava o piano e alvejava acertava em cheio o garoto Donato. Garoto porque a essa altura, ele se divertia feito moleque diante de tantas homenagens e respeito.
Caetano cantou “A Rã” e “Naturalmente”. Me amarro nessas, mas não sabia se curtia ou se acudia o Thomás, que a essa altura já gritava na direção do palco que o Caetano era pai dele. rs
Caetano cantou, foi ovacionado pelo público, saudou carinhosamente Donato e saiu. Todos os convidados da noite subiram, menos ele, que deve ter ido embora satisfeito. Eles cantaram uma canção que eu queria muito me lembrar qual foi, mas a emoção misturada com o destilado não me deixam.

Mas a noite de Donato 80 anos... Ah, essa não sai da memória nunca mais. “Essa noite é um lugar inacessível da memória.”

Túlio Baía é Dj residente da Festa Tupiniquim e nascido para bailar!
Fotos: Ramon Moreira
Show realizado em 20 de agosto de 2014.

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