quarta-feira, 16 de abril de 2014

Das cinzas de uma noite quase falida ao renascer na noite que deu brilho à vida :: Resenha Metá Metá e Abayomy


Era a primeira vez que Metá Metá pisaria naquele palco. E Abayomy estaria lá mais uma vez, fazendo daqueles incríveis-shows-clima-ode-à-Fela Kuti. Eu queria muito viver esse momento e houve até a parte de mim que celebrou o adiamento da viagem à Ibitipoca, que cairia justo no fim de semana desse grande encontro. 
Tudo certo para ir ao show. Mas, como o andamento dos astros somado ao turbilhão que são as emoções femininas fogem do controle e da compreensão humana, às dez da noite me vi tirando a roupa que iria para o Circo e deitando na cama, sofrida e desolada. Tudo e nada me tomavam o corpo e a alma e só o que eu queria era estar ali, estirada, abandonada – por mim mesma.
Eis que aquela pequena voz interior que tudo sabe me deu a dica: “Se veste, menina. E vai pro Circo. Música boa, isso só pode te fazer bem.” Segui os conselhos. Primeiro, encontrei vários amigos no bar que sempre é o nosso pré Circo. Eu ainda estava vivendo o esforço de estar na rua, e ainda me perguntando se realmente eu deveria ter saído de casa. Um rápido esquenta e logo já estava na hora de entrar. Passando por debaixo dos Arcos uma chavinha já começou a virar dentro de mim. Teria sido como atravessar um portal? Mais uma cervejinha e pronto: passando pela roleta já podia ouvir com nitidez o sax divino do Thiago França. Eles estavam na segunda música (malditos esquentas, às vezes!). Já fui pro meu cantinho de sempre, com parte dos meus de sempre e, pronto, a vida começava a acontecer. A essa hora a chave interna já estava toda virada e eu entregue àquela sonoridade, àquela qualidade, àquela verdade de cada um naquele palco transformada em arte, àquele ritmo, àquele espetáculo que era pura manifestação da alma travestida de show. A dúvida era se ficava de olhos fechados ou abertos. O corpo já fluía em dança. O sorriso largo já se exibia sem esforço e sem parar.
Assisti ali a um dos melhores shows da vida dos últimos tempos. Juçara Marçal é diva. A voz interior já foi logo se mostrando “Está vendo? Não falei? Ainda bem que você veio.” Acho que ela estava feliz por eu tê-la levado pra lá. O Circo Voador, por sua vez, estava na medida certa para o meu gosto. Já vi Circo lotado, vazio, de todos os jeitos. E sei bem a quantidade de gente que me satisfaz. E ele estava assim: com o número certo de pessoas. E com as pessoas certas: eu sentia a leveza que pairava por aquele espaço todo.

Abayomy não deixou por menos. Entrou elegante como sempre e se manteve assim até o fim. Fez o esqueleto manter o ritmo que o Metá Metá colocou. Aliás, tivemos mais uma vez o prazer de ver Metá Metá, quando voltou aos palcos para uma canja com eles.



BNegão foi digníssimo nas participações nos dois shows. Finalizou a noite lindamente com Abayomy.
Para completar, no intervalo entre os shows e no fim, Lencinho, como sempre, manteve a energia da festa. Era muita responsa, depois das porradas de cada show. Além dele, meus irmãos da Rosa Clara estavam expondo nesse dia seus colares e brincos, feitos com tanto amor, cuidado, beleza e bom gosto. Aliás, foi do lado da mesinha deles que pude agradecer ao Thiago França por aquilo tudo. E tirando os módicos preços do bar do Circo, fui embora muito satisfeita. Agradecida a mim e à minha voz interior por ter ido. A repercussão dessa noite fluiu em mim pelo resto dos dias. E hoje, quase uma semana depois, percebo que ainda tomam o meu ser a suavidade e a energia recebidas lá. 




Patrícia Olivieri dança com as palavras, com a vida e com o mundo. A moça colabora também com o site SerHurbano.

Um comentário:

  1. Belo texto, me faz lamentar não ter tido a oportunidade de assistir tal arte! A próxima não perderei...

    ResponderExcluir