Você pode ler a parte 1 clicando aqui.
- Tem whisky Pégasus Black?
- Temos sim. Com gelo ou cowboy?
- Nem um nem outro. Só perguntei se tinha. Não tenho dinheiro. Pode ser água?
- Com ou sem gás?
- A água da bica está saindo com gás?
- Lógico que não.
- Então é sem gás.
O garçom murmurrou alguma coisa que eu não entendi e preferi não me interessar em entender. O calor está infernal por isso a água está pronta para cozinhar um ovo. É nessas horas que um ovo faz uma terrível falta. Tico, é o meu nome. Sou detetive particular. Fui contratado por Lola, apelido de Lurdes, para encontrar o seu marido, o miliciano da zona oeste conhecido como o Mascarado, que fugiu do presídio pela porta da frente e gravou um vídeo que é campeão de acesso no youtube. Geralmente, eu pagava alguém para escrever o que havia acontecido no capítulo anterior, mas o cheque adiantado de quinhentos reais que Lola me deu não pôde ser descontado. Parece que os bens do casal foram bloqueados. Por isso cá estou, duro, bebendo essa água da bica. Mesmo sem ter conseguido sacar o cheque de Lola, minha consciência cristã diz que devo continuar no caso até achar o Mascarado. Deve ser uma forma de reparar meus erros de adolescente quando vivia surrupiando moedas da cestinha da igreja. Estou no balcão do bar conhecido por ser freqüentado por policiais milicianos, bombeiros milicianos, vereadores milicianos e deputados milicianos. Devo manter meus ouvidos atentos a tudo.
- Tem cotonete?
O garçom ignora minha pergunta. Uma conversa próxima no balcão me chama a atenção.
- Quando eu vi eram três ruivas enormes me agarrando...
Pera, não era esta conversa que me chamava a atenção. Esta era apenas a distração. Outro papo é que poderia desembocar no paradeiro do Mascarado.
- O deputado Geraldino deve assumir aquela secretaria do governo.
- O coronel me disse. Deixou um depoimento no meu orkut. Li e apaguei.
- O coronel tem perfil no orkut?
- Dois. Um lotou e ele abriu outro.
- Puxa! Vou ver se o adiciono.
Assim como dois e dois são... são... bom, deixa pra lá. O importante é que aquelas palavras poderiam me levar a algum lugar. Segundo Lola, Geraldino era ligado ao Mascarado. Melhor voltar a prestar atenção na conversa.
- Amanhã é a grande reunião. É lá que o Mascarado vai dar sua cartada final.
- O coronel disse também isso no orkut?
- Não. Pra isso ele criou um "evento" no facebook.
- O coronel tem facebook?
- Claro. Ele tem até a fazendinha.
Corri para dar a notícia para Lola. Saí tão rápido que só duas esquinas depois o garçom me alcançou para pegar o copo que, na pressa, esqueci de deixar no balcão. Depois de tentar quatro orelhões, encontrei um funcionando e marquei com ela no meu escritório.
- Soube do seu marido. - disse a ela assim que a mesma adentrou meu escritório. Não precisei nem abrir a porta, afinal estou sem. A última que eu tive foi usada por um surfista para atravessar uma inundação durante um forte temporal. Lola estava deslumbrante. Seu perfume me lembrava um melão fresco e desinibido. Seus seios também me remetiam a mesma coisa. Ela foi direta.
- Eu também soube. Fui convidada para um evento que ele vai participar através do meu facebook.
- Então você também tem um perfil no facebook?
- Claro! Se você quiser pode me adêdê aos seus amigos. Meu perfil é GataLolaSelvagem.
- Irei fazer. - concordei mesmo sem entender direito do que se tratava. Continuei. - E seu marido?
- Ele é mais aparecido. Tem facebook, orkut, canal no youtube, bem acessado, eu já disse, msn, blog e twitter.
- Mas ele não é foragido? E você diante disso tudo? Está me parecendo muito calma.
- Descobri que o Mascarado já está com outra. Uma vagabunda chamada Érica, conhecida como Kéka, que morava duas ruas depois da nossa. Meu advogado descobriu que a casa de Iguabinha está em meu nome e ele me orientou passar uns tempos lá. Eu sei muita coisa comprometedora. Tome, aqui tem os quinhentos reais em dinheiro prometidos pelo serviço. Nos vemos por aí.
Ela me entregou cinco notas de cem e me deu dois beijos no rosto. Ainda bem que o dinheiro foi antes do beijo, senão eu poderia aceitar apenas os beijos como pagamento. Mas agora o dinheiro já estava no bolso, os beijos estavam dados e Lola partia deixando no ar apenas o aroma de melão fresco e desinibido. Bom, se comparado ao geralmente, posso considerar isto um final feliz.
Epílogo:
No dia seguinte, pedi no bar do Guto um café da manhã completo, embora no bar do Guto isso seja apenas um pão na chapa sem manteiga e um pingado sem açúcar. O síndico do meu prédio também tomava seu café da manhã. Uma cachaça e um pão com linguiça dormido. Preferi dar atenção a televisão que estava ligado no telejornal. O atendente ia mudar para o Bom Dia e Cia., mas pedi que não o fizesse. Ele fez uma careta, só que acatara meu pedido. Segundo o âncora, o Deputado Geraldino aceitara a secretaria de Transportes Urbanos, deixando assim a vaga de deputado para o seu suplente, o Pascoal, que não era ninguém mais que o Mascarado, que se tornando Deputado passava a ter imunidade diplomática e não poderia mais ser preso. Então essa era a cartada do Mascarado. A política o havia salvo da cadeia. E foi a primeira vez que me vi com o dinheiro no bolso sem estar necessariamente num final feliz! Tico, é o meu nome. Começa com "T" e termina com "o", que pode ser de "opa, algo aí não me cheira bem!".
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